No meu caso, não era só a minha lista para o ano, era uma lista para a vida. Sempre preparei demasiado o guião a seguir, eu iria terminar a licenciatura e mestrado e voltar para Cinfães, ia ter um emprego estável, ia casar cedo, ter a minha própria casa o meu própria carro, ser mãe de dois filhos antes dos 30, mas... a verdade é que eu não dependo apenas de mim para traçar um caminho, estou dependente de outros fatores que podem alterar por completo o rumo da minha vida.
Em 2019, eu aceitei. Aceitei que provavelmente nunca mais voltarei a viver em Cinfães e está tudo bem, eu posso ser feliz noutro lugar e voltar a Cinfães sempre que quiser. Aprendi que não são os bens materiais que me farão feliz, o meu carro tem uns bons anos e a minha casa ainda tem meses de obras pela frente e está tudo bem, pode ficar para mais tarde. Muito provavelmente, aos 30 não irei ter dois filhos, talvez tenha um ou talvez ainda não tenha nenhum e está tudo bem, no tempo certo eles virão. Hoje percebo que na minha lista de coisas a fazer me esqueci do mais importante, viver! Esqueci-me que por vezes serei feliz por fazer uma viagem, por jantar fora, por me premiar com algo que queira e certamente os planos não serão piores por isso.
Apercebi-me também que não precisamos de ser todos iguais. Porque é que durante tantos anos o nº 38 que marcava a minha roupa me transtornava tanto? Muito provavelmente pela pressão de não podermos vestir mais do que um S, mas e se nunca vestir menos do que um 38? Está tudo bem. Pode acontecer tanta coisa com o meu corpo. Porque é que tenho de me privar de algumas coisas ou obrigar-me a fazer outras, se sou ativa o suficiente para me manter saudável? Porque é que eu tenho que me maquilhar sempre que saio de casa? Não pode haver dias em que simplesmente assuma que tenho acne e marcas? Eu tenho esses dias, eu não necessito de me pressionar ao ponto de me maquilhar para ir comprar pão ou para sair para um jantar, se eu não me quiser, e está tudo bem.
Mas percebam que o facto de alguém se aceitar, não quer dizer que as pessoas tenham o direito de dizerem tudo o que pensam. Se a vossa opinião não foi pedida e não acrescenta nada à vida da pessoa, guardem para vocês. As pessoas sabem quando engordam, sabem que têm espinhas, sabem que têm o nariz torto ou as sobrancelhas por fazer, mas desde que elas vivam bem com isso e não afetem ninguém, não têm que opinar.
2019 foi o ano em que aceitei e me aceitei, e hoje vivo melhor comigo mesma. Não existem planos perfeitos, não existem caminhos em linha reta e está tudo bem. Cumpri alguns pontos da minha lista e vivi coisas que nem sequer imaginava porque me permiti a viver. Que em 2020 eu não acrescente pontos à minha lista, que acrescente momentos, que some sorrisos e que conquiste pessoas. E se não for melhor, que 2020 seja tão bom e reconfortante como 2019.
Bom anos para todos,
Ana Ferreira
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